às vezes, tudo o que eu queria era pelo menos um amigo para compartilhar as coisas do meu dia.
um vazio que ninguém vê.
Tem dias em que o peso da solidão se faz tão presente que parece até ter forma. Ela senta ao meu lado, me acompanha em cada passo, em cada pensamento, em cada silêncio. E por mais que o mundo siga girando lá fora — com buzinas, risos, conversas, encontros, desencontros — dentro de mim parece que tudo está pausado. Como se eu vivesse num espaço entre o tempo e a presença, onde os acontecimentos passam, mas ninguém os vê comigo.
Não é que eu não goste de estar sozinha, às vezes é até necessário.
Mas o que dói não é o silêncio das coisas, e sim o silêncio da troca. É o fato de viver um dia cheio — com seus detalhes, suas vitórias minúsculas, seus momentos engraçados, suas pequenas tristezas — e não ter com quem dividir isso. Não ter alguém pra ouvir “você não vai acreditar no que aconteceu hoje” ou até mesmo “nada demais aconteceu, mas queria conversar com você assim mesmo”.
Às vezes eu só queria mandar uma foto boba de algo que vi e achei bonito. Ou uma frase que li e me lembrou alguém. Queria poder dizer “olha esse pôr do sol” e que alguém do outro lado respondesse com um sorriso ou uma frase carinhosa. Queria contar como o professor falou uma coisa engraçada na aula. Como eu me senti bem usando uma roupa nova. Como me deu vontade de chorar depois de ouvir aquela música antiga.
E eu penso... será que é pedir demais? Um amigo. Apenas um. Alguém que não precise ser perfeito, só verdadeiro. Alguém com quem eu possa ser eu mesma, sem filtros, sem receio de ser chata, intensa ou boba. Alguém que esteja ali quando tudo der certo, mas também quando tudo parecer ruir. Um amigo que ria comigo, que me incentive, que me escute sem me julgar. Que esteja disposto a entrar no meu mundo e também me deixar entrar no dele.
A verdade é que vivemos num tempo em que estamos mais conectados do que nunca, mas ao mesmo tempo tão desconectados uns dos outros. Seguimos trocando mensagens rápidas, curtidas e emojis... mas e as conversas profundas? E os desabafos da madrugada? E o “me liga, só quero ouvir sua voz”? Tudo isso parece estar desaparecendo. A superficialidade se disfarça de amizade, e o resultado é esse vazio que fica dentro de quem sente de verdade.
Eu sei que não sou perfeita. Sei que às vezes me calo demais ou sinto demais. Mas, no fundo, eu só queria ser vista. Ser percebida. Ter alguém que dissesse: “me conta como foi o seu dia”. E não apenas por educação, mas porque realmente quer saber. Porque se importa. Porque se faz presente. Porque entende que amizade é isso: estar, mesmo que longe. Sentir, mesmo sem falar o tempo todo. Dividir o que é leve, mas também o que pesa.
Tem dias em que tudo que eu queria era um abraço. Tem dias em que tudo que eu queria era rir junto com alguém. Tem dias em que tudo que eu queria era me sentir menos sozinha nesse mundo que vive correndo, mas esquece de olhar ao redor. E quando olho pra dentro, o que encontro é um desejo simples, quase infantil: o desejo de ter um amigo verdadeiro. Um que ficasse. Um que não fosse embora quando o riso acabasse. Um que me ouvisse mesmo quando eu não dissesse nada.
Porque às vezes, tudo o que eu queria — tudo mesmo — era só isso: pelo menos um amigo... para compartilhar as coisas do meu dia.
---
que texto lindo!! sai da minha cabeça agora