garotas que amam romance mas fogem de sentimentos.
Era uma vez uma garota que vivia entre páginas. Ela devorava histórias de amor como quem precisa de ar, se perdia em diálogos apaixonantes e suspirava com cada cena de declaração inesperada. Mas, quando a vida tentava transformar ficção em realidade, ela se escondia atrás de uma pilha de livros ou mudava de assunto antes que o coração começasse a bater forte demais.
Ela entendia de cartas de amor, mas jamais escreveria uma. Sabia os momentos exatos em que o mocinho deveria segurar a mão da mocinha, mas, se alguém tentasse tocar a dela, um arrepio de pânico subia por sua espinha. Sentimentos eram bonitos no papel, mas complicados demais na vida real.
Talvez fosse pelo medo de não corresponder às expectativas. Na ficção, o amor sempre se encaixava no momento certo, com as palavras certas e as músicas de fundo perfeitas. Mas na vida real? O amor era bagunçado, incerto e às vezes deixava cicatrizes. Melhor evitar o risco de se machucar.
Ela ria das próprias contradições. Como alguém poderia chorar lendo Orgulho e Preconceito e ao mesmo tempo fugir de qualquer possibilidade de viver algo parecido? Como podia se encantar com casais que discutiam, se desencontravam e, no fim, se encontravam novamente, mas correr ao menor sinal de vulnerabilidade?
Talvez fosse mais fácil se apaixonar por personagens do que por pessoas. Os personagens eram seguros; eles nunca a machucariam, nunca a deixariam esperando por uma mensagem que não chegaria, nunca fariam promessas vazias. Eram previsíveis e, de certo modo, reconfortantes.
Mas, às vezes, entre um livro e outro, vinha aquela pontada de dúvida. E se ela estivesse perdendo algo incrível? E se, ao se proteger tanto, estivesse deixando escapar uma história que poderia ser sua? Talvez o amor real não fosse perfeito como nos livros, mas e se tivesse sua própria beleza?
O problema era confiar. Confiar que alguém entenderia suas inseguranças, que teria paciência para os silêncios, que não a faria se sentir tola por ter medo. Porque, no fundo, não era apenas sobre fugir de sentimentos – era sobre fugir do que eles poderiam causar.
Mas a vida, assim como os romances que ela tanto amava, tinha um jeito engraçado de pregar peças. Um dia, talvez sem perceber, ela se pegaria sorrindo para alguém antes de conseguir se lembrar de fugir. Talvez sua própria história estivesse começando sem que ela percebesse.
E, quando menos esperasse, poderia descobrir que o amor não precisa ser um roteiro perfeito, com falas ensaiadas e finais previsíveis. Ele pode ser estranho, confuso, até mesmo assustador, mas, acima de tudo, pode ser real.
Talvez, só talvez, ela estivesse pronta para virar a página e começar a escrever sua própria história.