"Você não pode ser apenas amigo de alguém pelo qual você está perdidamente apaixonado."
Frank Ocean
Frank Ocean disse isso com uma simplicidade que corta feito faca. Porque é exatamente isso. Você até tenta ser só amigo. Se convence, se distrai, se força a aceitar menos do que sente. Mas dentro de você… tem um caos. Um coração que grita calado, que pulsa no ritmo de uma esperança que ninguém vê.
Você quer estar por perto, claro. Quer ouvir a voz, ver o sorriso, fazer parte da vida dessa pessoa. Só que esse "estar por perto" começa a machucar. Porque não é o suficiente. Nunca é. Você quer mais — quer ser visto, escolhido, amado. Quer ser aquele nome no topo da lista, o pensamento antes de dormir, o motivo por trás do riso bobo. Só que não é. E isso te destrói aos poucos, sem fazer barulho.
E o pior de tudo? Você não consegue ir embora. Porque, apesar de tudo, a presença dela ainda é melhor do que o vazio que ficaria se você se afastasse. Então você fica. Fica, mesmo sabendo que a cada dia você vai se perdendo um pouco mais de si. Vai se adaptando ao que tem, como quem se contenta com migalhas achando que é banquete. Vai aceitando o papel de amigo, mesmo que seu coração queira ser protagonista.
Você começa a se calar. A engolir sentimentos. A sorrir enquanto por dentro tá implodindo. E a cada gesto dela com outra pessoa, a cada história sobre outro amor, você morre um pouquinho. Mas disfarça. Porque é isso que quem ama em silêncio aprende a fazer: sentir tudo e não mostrar nada.
Só que chega um ponto em que essa “amizade” começa a doer mais do que qualquer ausência. Porque estar perto de quem você ama, fingindo que é só carinho de amigo, é uma tortura que ninguém merece viver.
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Você quer aquela pessoa.
Você quer ser daquela pessoa.
E você quer ela.
Não é só sobre gostar, não é só atração, não é só uma fase. É ela. E ponto. É o nome que ecoa sem querer na sua mente quando o dia tá calmo. É o rosto que aparece quando você imagina o futuro. É o jeito dela que você decora sem nem perceber. E tudo nela, absolutamente tudo, parece fazer sentido com o que você sente. Mesmo que esse sentimento só exista do seu lado.
Ela chega, e o mundo muda de tom. A voz dela te atravessa de um jeito que ninguém entende. A risada vira trilha sonora de pensamento. E qualquer toque, qualquer olhar mais demorado, qualquer brincadeira, por menor que seja, vira lembrança. Fica gravado. Marca. Fere, até. Porque você sabe que, pra ela, é só amizade. Mas pra você... é tudo.
Você quer ser dela. Quer ser o lugar pra onde ela volta quando o mundo pesar. Quer ser o número que ela liga quando tiver boas notícias, más notícias ou nenhuma. Quer ser quem ela escolhe quando pensa em amor. Quer ser o motivo. O abrigo. O acaso que virou destino. Você quer ser quem ela olha com aquele brilho nos olhos que você vê ela usar com outros — e que nunca foi pra você.
Você quer ela do seu lado, dividindo a rotina, os sonhos, os medos, os domingos entediados e os silêncios que só quem ama consegue partilhar sem estranheza. Você quer fazer parte da vida dela de um jeito que vá além das mensagens trocadas, dos “como você tá?” e das promessas de amizade eterna. Porque, pra você, o que sente não é amizade. É amor. Amor puro. Amor inteiro.
Mas você cala. Porque falar poderia estragar tudo. Poderia afastar. E você não quer perder nem o pouco que tem.
Então você finge que não sente. Ri das piadas, dá conselhos, ouve ela falar de outros caras. Engole a dor disfarçada de costume. Porque amar alguém que não te ama de volta é isso: um exercício diário de silêncio. Um ato de resistência contra o próprio coração.
Você percebe os detalhes. A forma como ela mexe no cabelo quando tá nervosa. O jeito como ela morde o canto da boca quando tá pensando. As músicas que ela gosta. Os filmes que odeia. As palavras que repete. Você observa e guarda tudo, como quem cuida de um universo que só você vê. Como quem se apega a migalhas tentando transformar em banquete. Mas no fundo sabe: você sente por dois.
E ainda assim, você não vai embora. Porque, por mais que doa, a presença dela ainda vale mais do que a ausência. Você não precisa que ela te ame de volta pra saber o quanto ela é especial. Você só precisa estar ali, mesmo que em silêncio. Mesmo que nunca passe disso.
Às vezes, a gente ama sem final feliz. Ama mesmo assim. Sem contrato, sem reciprocidade, sem promessas. Só ama. Porque é impossível não amar. Porque o amor, quando é de verdade, não pede permissão. Ele só acontece.
E você aceita. Não com facilidade, mas com verdade. Você aprende a amar com cuidado, com distância, com maturidade. Aprende que não é todo amor que vira história. Que, às vezes, ele vira poesia muda. Texto guardado. Sentimento disfarçado. Mas nem por isso é menor. Nem por isso vale menos.
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Mesmo que o mundo inteiro diga que não pode. Mesmo que ela nunca saiba. Mesmo que isso só exista dentro de você.